O mau tempo já lá vai… As nuvens seguiram outro rumo… O céu já não está rasgado pela luz ofuscante dos relâmpagos e muito menos a minha cabeça atormentada pelo barulho dos trovões, esses ruidosos gritos de raiva vindos do além…
Gritos? Sim talvez, mas não do além, de bem perto, talvez gritos provenientes das minhas próprias entranhas.
Não era justo... Não estava certo.
Precisava de um guarda-chuva que me pudesse guiar até ao sonho tão sonhado, por vezes tão platónico, outras tão real e tão certo. Corri tanto para encontrar o guarda-chuva e a gabardina… Foram vários os locais onde fui, das formas mais discretas e tentadoras, ora com passos firmes ora mais reticentes. Estavam sempre tão distantes, que eu não os conseguia alcançar… Mas eu tentava, com toda a minha força interior, com tudo o que existia de determinado e de sonhador no meu fundo.
Perguntei muitas vezes porquê que teria de ser assim, uma tarefa tão complicada, tão dolorosa… Mas a vontade estava ali. A força do querer avançava à medida que os ponteiros do relógio se moviam, o brilho no olhar tornava-se rio no leito da face… Até que se agarra a gabardina e o guarda-chuva. Já nem o mau tempo impede de percorrer aquela estrada sinuosa. Nesse instante, de rompante, cessou a chuva grossa e deu lugar a pequenas gotículas salgadas que eu provava num sorriso contagiado pela energia que anteriormente se fazia libertar dos mais recônditos cantos do céu.
Agora sim, estou pronta. Posso seguir…
Patrícia